Vida lá fora e Vida aqui dentro


Vida lá fora e Vida aqui dentro

O guerreiro no campo de batalha avista no horizonte um mensageiro, na verdade vários deles, cartas endereçadas a outros guerreiros, alguns saem chorando, outros apenas abaixam suas cabeças e saem  do campo de batalha.

O guerreiro que observa não entende, no fundo teme o que tem na carta, ele entende que se trata de um mau, algum tipo de carta pungente, não houve um guerreiro sequer que tenha esboçado um breve sorriso.

Um mensageiro caminha em direção ao guerreiro, eles se olham fixamente, naquele olhar o mensageiro lhe diz: Não gostaria de ser portador de tal mensagem, não gostaria de trazer estas notícias, não gostaria lhe ofertar a adaga que fere o coração, um ataque em forma de frases, onde o portador da mensagem não tem intenção alguma de ofender ou causar mau. Mas eu preciso lhe entregar a mensagem.

O guerreiro pega a carta e agradece o mensageiro, o campo de batalha é demasiado frio, mas ele sente que o frio na sua alma é ainda maior. Ele não teve tempo de pensar no amor não encontrado, não teve tempo de pensar na donzela não avistada, não teve tempo de pensar em batalhas, enquanto segura firme o papel, o medo o invade pois ele não sabe o que tem ali.

Sua mente divaga em memórias e lembranças, e lembra de sorrisos, e choros, de correr e brincar, de ser monstro e bandido correndo atrás do filho, sorrisos doces, corrida feroz, seu filho era agitado, esperto, perspicaz. Seus olhinhos serram ao sorrir, ele é engraçado e traz muita alegria ao pai.

Aí a sua mente fala, calma não deve ser nada…

Mais uma vez divaga e é remetido ao mesmo túnel do tempo, lembranças cor de rosa, uma pequena menina, de rica fala, que não para, ele lembra que nas brincadeira ele foi filho, foi cliente, foi aluno,  trabalhou pra ela, comeu a comida imaginária e provou o café que somente a mente de ambos viam.
Ajudou a arrumar a casa de bonecas, as veze ele, o guerreiro, por estar cansado da batalha cochilava mas disfarçava, ela esperta, fingia que não via para não perder o aluno-filho-pai-cliente-funcionário.

Segurando firme a carta, preparou o seu coração e a abriu…

Seu coração se encheu de tristeza, dois partículas de felicidade se desprenderam de suas lágrimas reluzentes, mas ele as guardou, guardou as partículas em amor a outros, pois não se achava digno, não sorriu, e não, não era sobre seus filhos, mas era sobre outros filhos, ou filhos dos filhos, pai dos filhos, mães dos filhos, avôs e avós e também os que pareciam não ter ninguém.

Uma peste se alastra pelo planeta…

Matando enquanto percorre fronteiras, matando longe e matando perto.

Na carta dizia, volte para casa, volte para os seus, não fique no campo para que a peste não te alcance, então como outros ele abaixa a cabeça e pega seu escudo, durante o caminho encontra outros guerreiros, muitos caminhando de cabeça baixa e alguns muitos em desespero.

Ele decide descer do seu cavalo e ir abraçar os que encontrava em condições extremas de dor.
O guerreiro já fora experimentado na dor desde muito criança, ele a conhece bem e a suporta bem.

Ao abraçar nada precisava ser dito, o abraço tem sua língua própria, o homem em desespero abraça forte o guerreiro, um pouco de sua dor é absorvida pelo guerreiro, o homem em lamento diz com dificuldade que perdera um filho em tenra idade. O desesperado se levanta e agradece, consegue sair do desespero mesmo com sua cachoeira de lágrimas a transbordar. 

O guerreiro segue seu caminho abraçando alguns muitos, com este ato ele salvava vidas, vidas que ficaram, vidas que gostariam de ir no lugar dos que foram. Com o abraço eles entenderam que mesmo em meio a dor, existe uma responsabilidade de seguir o caminho, de utilizar o tempo de vida, de carreira ofertada pelo Senhor dos Exércitos.

O guerreiro enquanto ruma ao horizonte, ao seu lar, ainda se preocupa com os seus, eles não vivem na casa do guerreiro, mas estão em segurança e sendo cuidados. A vida apresentou caminhos inevitáveis na vida do guerreiro que o levou a mais guerras, mas aprendeu a sobreviver para sempre voltar a ver aqueles olhos, dos seus eternos pequenos, ele sabe que filho e filha um dia serão guerreiro e amazona nesta vida, ele sabe que pode falhar e ser golpeado mortalmente em uma batalha.

Mas é isso que ele é: Guerreiro.

Ao chegar em casa ele tem a notícia de que um grupo tático entrou em ação para combater a peste que assola todas as terras, a peste que adoeceu o mundo em escala planetária.
A peste que ceifa vidas sem perdão, independente da razão, a peste que entra sorrateiramente, que chega sem ser vista.

Como combater este inimigo?

As equipes táticas espalhadas pelo globo trabalham dia e noite, suas armaduras são brancas, azuis ou verdes, perdem soldados no front, mas não desistem. Lampejos de esperança surgem, possíveis curas e vacinas, tratamentos além do mero isolamento.

Então o guerreiro abre um baú e pega de lá um arma antiga, ela funciona melhor quando está de joelhos, ele a carrega, prepara, fica tentado a usá-la de olhos abertos, com medo de alguém no front cortar a sua jugular, mas se lembra que está em casa.
Então todos os dias ele se ajoelha e utiliza aquela arma, a ORAÇÃO.

Dias e dias de exílio batalhando, não adianta a guerra te alcança na Vida lá fora e na Vida aqui dentro.

Mas ele está pronto pois sabe a quem serve, um exímio estrategista, vencedor de TODAS as batalhas.

Aquele que nos dá Vida lá fora e Vida aqui dentro!

Autor: Anderson Ribeiro Sousa

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