A história não contada de um naufrágio



A história não contada de um naufrágio

Um capitão com seu ímpeto de conquistar o mundo entrou em seu barco com a tripulação.
Navio preparado, marujos à postos, velas se levantam, e o vento sopra, ele sai do porto, traça o curso, pois sabe onde ele quer chegar.
Tudo vai bem, uma noite clara de luar sobre as águas profundas, baleias nadam ao lado do barco, os marinheiros chamam o capitão para admirar tamanha beleza da natureza, mas o capitão pensa avante, pensa no futuro e responde a tripulação, quando chegar ao meu objetivo terei tempo pra isso.
Ele pega seu sextante e olha o posicionamento dos astros, ajusta sua rota, conforme navega adentrando os oceanos, luas e mais luas se passam, chuvas e tempestades, velas sendo sopradas com o fôlego dos céus, impulsionam a pequena embarcação. 
Milhas e milhas ele risca os mares com total destreza, o capitão confia em si, o capitão sabe de onde veio e para onde vai.
Um dos marinheiros visualizam o temido estreito de Drake, o mar mais perigoso da face da Terra, aconselharam o capitão a pegar o estreito Magalhães, mas o capitão era orgulhoso demais e aquele era o caminho mais rápido para o seu objetivo.
Conforme ele se aproxima da entrada do estreito o tempo já começa a mudar, os vagalhões começaram a se intensificar, o barco ficou de difícil controle, a tripulação amedrontada, começa a culpar o capitão, começam a amaldiçoá-lo por estar levando eles em direção à morte.

Após uma noite de luta, cansativa, após quase um dos marinheiros perder a vida, quando tudo ficou obscuramente perigoso, a tripulação decide abandonar o barco, chamam o capitão, ele diz que não vai, que ele consegue, ele pode, ele é capaz, a perfeita representação do egoísmo humano impressa na postura daquele capitão.

Todos se vão, pobre capitão.

Mas a sua verdade era dominante, era única, não havia espaço para arrependimentos, só cabia o seu ego que sobejava para fora do barco, toda aquela certeza humana e soberba, toda presunção e obstinação.

Ele foi de encontro ao Drake, estreito de Drake…
9hs da manhã e o sol some, o céu levemente cinza começa a gotejar sobre sua cabeça, de forma abrupta o céu fica com um cinza chumbo com um pouco de corrosão, a beleza celeste se transforma em um aterrorizante cenário, tudo parecia ser orquestrado por uma força maligna, não haviam baleias ou golfinhos, parecia um cemitério alagado, o cheiro que pairava era de morte, um cheiro pútrido como se o próprio mensageiro da morte estivesse a sua espreita esperando o momento certo de rasgar o peito do capitão com sua foice, pois é dessa ceifa que o mensageiro tem deleite, quando ele ceifa vidas.

O capitão está atento, concentrado e na certeza que vencerá… do limbo acima no céu, comportas são abertas, a diversas trombas d'Água cercam o navio como um cela, parecia haver um demônio do mar orquestrando toda a cena horrenda, uma gigantesca vaga se levanta indo em direção ao navio, dois braços de mar se erguem, duas mãos se fecham em punho, como se as ondas tivessem tomado forma de um agente do mal, e começa a socar a embarcação, ela se esfacela, o capitão não larga o timão, um dos socos arranca o mastro e leva as velas, o casco do navio começa a rachar, um soco de água invade a cabine e joga o capitão contra os instrumentos, uma de suas costelas se quebram, algo dentro dele está ferido e com hemorragia, sai sangue de sua boca.

O estrondo da vaga que veio de encontro parecia um urro e uma gargalhada maligna, o capitão parecia conseguir enxergar dentro dos olhos da vaga. Raios riscavam o céu de chumbo parecendo raízes sombrias de uma árvore em sequidão.

O último golpe é dado e o capitão é sacudido e bate com várias partes de seu frágil corpo em vários lugares, a cabine é banhada de escarlate pelo seu sangue misturado a água salgada.

Antes do capitão fechar seus olhos lágrimas se misturam àquelas águas de pavor, não há o que ser feito, não existe socorro, só lhe resta a morte.

Após o último golpe ele é puxado para o fundo, como se fosse um laço preparado para o levar à sepultura.

Nas profundezas do Drake quase sem força vital, ele tem uma visão quando seu corpo toca o fundo, com todos os seus órgãos entrando em falência múltipla, seus olhos descrentes registram como se um bolsão de ar o envolvesse, a água é repelida, como um aquário invertido, pois os peixes é quem observavam tal expectação, dentro daquela bolha ele contemplou no entorno e viu vários navios destroçados.

E de repente um rugido, um leão maior do que um urso se aproxima, o capitão fita seus olhos, e todo o medo se dissipa,  com a pouca força que tinha perguntou ao Leão.
De onde você veio? 
E o Leão com uma poderosa voz responde: Judá!!!

Passados 2 dias do naufrágio, o capitão acorda em um hospital no Cabo de Hornos.
Teria sido uma visão, um sonho?
Seu estado de saúde ainda era grave, e seu peito estava enfaixado, então ele perguntou ao médico.
O que ouve no meu peito?
Neste momento o médico responde: Não sei que animal você encontrou em alto mar, mas parece que um leão arranhou justamente encima do seu coração!!!
Após vários exames constatamos que seu coração foi transplantado, acho que isso pode explicar, talvez seja apenas uma cirurgia que esteticamente deixou a desejar, mas o seu coração é NOVO!!!

Autor: Anderson Ribeiro Sousa.

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