O Quebra Gelo
O Quebra Gelo
Venho do oceano da vida, após mares bravios afundarem meu barco, consegui chegar a costa, olho pra trás e as enormes mavericks engolem o ar como uma mão se fechando e socando o oceano, estas ondas tem tamanhos gigantescos.
Durante o acidente lembro-me de me agarrar ao navio enquanto o mesmo afundava, eu não queria soltar, não queria largar, mas o imponente oceano da vida o destruiu e afundou, logo eu que me achava um ótimo marujo, fui engolido junto no momento que ele submergiu e aquela força como um redemoinho me puxou para o fundo, pude contemplar diversos navios enferrujados e destruídos no fundo do oceano.
Anos se passaram, e a vida continua a me convidar para navegar neste oceano, de marujo virei apenas alguém que coloca os pés nas águas gélidas.
Algo me desafia a enfrentar o oceano novamente, mas percebo que ele está diferente, está completamente congelado, a navegação é impossível, causa medo, preocupação.
Então conheci o Quebra-Gelo, um navio feito para quebrar a superfície de gelo nos mares e rios.
Camadas grossas de 2 ou 3 metros de espessura tentam resistir ao peso do casco, ele vai cortando o oceano, com dificuldade, motores à frente com toda potência, lutam de maneira corajosa contra o Gelo, o coração se fechou, congelou, proibiu a rota de outros navios, a navegação nestas águas é impossível para um navio comum, os que tentaram naufragaram ou nem conseguiram iniciar viagem.
O Quebra-Gelo é a única esperança, enquanto ele parte o gelo e avança, a embarcação que deseja navegar nas águas do coração precisa estar bem próxima, do contrário o sulco aberto na geleira se fecha, fazendo uma tripulação inteira morrer. Eu acho loucura os que desejam entrar neste mar, do coração, do meu coração, do frio coração, icebergs a bombordo, rochedos a este bordo, não existe vida marinha ali.
Mas o Quebra-Gelo segue à frente e eu atônito, com medo, talvez o único medo que me resta, navegar.
Um sentimento de revolta, de querer romper, ultrapassar me força a ficar no Quebra-Gelo para ver no que vai dar.
O timoneiro não é daqui, ele é corajoso e confiante, sua voz é como o som de muitas águas, como uma multidão em coro, veemente, seus olhos são como chamas, ele me parece saber o que está fazendo.
Mesmo dentro do Quebra-Gelo ainda sinto medo, mas de certa forma, confio nele, muitas vezes penso em pegar o timão, mas no final deixo em suas mãos.
A nevasca é intensa, sei que um dia o inverno passa, o que me surpreende é ver navios tentando passar pelo caminho aberto, seguindo a rota.
Meu coração bate rápido enquanto escrevo, misto de esperança e desespero, terror mesmo no Quebra-Gelo.
Esta é uma história em curso, no momento só ouço o som do gelo se partindo...
Autor: Anderson Ribeiro Sousa
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